segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sobre tortura

Recentemente foi disponibilizado um relatório que pretende prestar contas (ou, ao menos, começar) sobre o período negro da ditadura militar no Brasil. O livro, chamado Direito à Memória e à Verdade: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, é uma iniciativa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/) e está disponível no seu site. Publicação bonita, representa um trabalho árduo, que vem ocorrendo desde 1995. No seu segundo capítulo, comenta sobre o fenômeno da ditadura na América Latina, detalhando melhor o processo ocorrido no Brasil. Um bom material para os estudantes pesquisarem (se é que se ensina isso na escola...).
Depois, o documento trata do trabalho da Comissão, descreve a Lei 9140/95 (criticada pelos defensores dos direitos humanos), e entra no seu assunto núcleo: a busca da história dos desaparecidos políticos. Foram analisados mais de 300 casos, e o resultado é relatado no documento. Não li tudo (são mais de 500 páginas), e não é uma leitura fácil pelo tema que se coloca. Também não tenho nenhum tipo de conhecimento técnico sobre o assunto, nenhum parente que tenha desaparecido, mas tenho uma sensibilidade extrema ao tema. Por isso a minha curiosidade de abrir o documento, consultá-lo.
O que me ocorreu foi que, se até hoje não temos nada de concreto sob a forma de resposta para essas famílias de desaparecidos, o que teremos, no futuro, para os familiares de desaparecidos da atual “ditadura do tráfico”? Porque estamos vivendo isso novamente - ou não? Porque pessoas são mortas a uma velocidade muito maior que na ditadura, seus corpos são mutilados, carbonizados, escondidos. Várias mães ficam sem poder enterrar seus mortos. E o slogan do tal documento ficou bombardeando a minha cabeça:

Para que não se esqueça.
Para que nunca mais aconteça.


Pois ainda acontece, embora de forma diferente. Claro que não sei a resposta para isso. Nem sei se cabe a minha comparação, mas, de certa forma, quem entra pro tráfico, entra para uma espécie de regime militar (basta ver as armas) e passa a agir segundo uma lógica perversa que o cidadão comum não consegue compreender. E quando o cidadão comum se encontra com essa lógica, há grande chance de não voltar para contar a história. Muito se fala sobre violência, ainda mais com o sucesso estrondoso do filme Tropa de Elite mesmo antes da estréia. Mas pouco se faz, e a cada dia que passa, mais difícil fica tomar alguma atitude. Talvez reconhecer os erros do passado seja um grande passo. Esse documento é quase nada para quem teve seus familiares desaparecidos, mas pode ser um princípio de reação. Ou de chamada de atenção para o tema. Há gerações que preferem não enxergar o que houve, maquiam essa época importante e delicada da nossa história para que as fotos fiquem mais bonitas. Precisamos pensar nisso, precisamos ensinar nossos filhos, precisamos de, pelo menos, algumas respostas. Afinal, pode estar acontecendo de novo, só que, desta vez, em uma classe social com menos recursos, que não tem voz para gritar pelos seus mortos. Dessa vez, sem um ideal político, apenas o econômico. Devo ser mesmo idealista, mas creio que só fazendo pensar, refletir, educar é que conseguiremos começar a romper com esse ciclo de violência que vivemos desde os tempos de colônia. E se tudo que posso fazer é provocar, lá vai.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Esquizofrenia Corporativa


Esse tema daria um novo blog, mas resolvi começar nesse mesmo para ver se cola.

Vocês já repararam que as empresas estão ficando esquizofrênicas? Elas ouvem vozes do além, têm crise de identidade, se sentem perseguidas... um horror. Sobra sempre para nós, que não desistimos de ser pessoas. Aliás, tão raro ver gente hoje em dia, né? As empresas não gostam de gente, pedem que se priorize as tarefas delegadas por ela, que não se tenha vida pessoal, que se trabalhe mais e mais a cada dia. E nós vamos esquecendo como é ser pessoa. A família cobra, o corpo reclama, mas nós estamos estressados e não podemos parar. Aí vêm os divórcios, os problemas com os filhos, as doenças e estresses em geral, e não sabemos o que fazer com isso. Enfim, um dia, deixamos de ser gente e viramos empresa, e achamos que essa vida é boa. Ocorre que, um belo dia, a empresa - sim, porque aqui ela volta a ser ela e não mais nós - nos demite ou aposenta. E então nos vemos na mais absurda miséria. Sem amigos, sem hobbies, sem prazeres nem conversa. Fazer o que? Não sabemos mais ser gente... então é esperar o grande final para receber da empresa - aquela - uma coroa.
Afe! Eu ainda sou gente. E por isso eu choro, eu sofro, eu me sinto injustiçada. Às vezes acho eco, muitas outras não. E vou seguindo, na esperança de não deixar de ser gente nunca, mesmo que tentem me transformar numa barata.
Outro dia, mais reflexões...