sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

De volta das férias

Mal voltei de férias e já estou precisando de outras. Na verdade, o fato de ter que voltar já causava desânimo. Qualquer coisa causaria desânimo após uma semana no navio. É como se fosse uma semana no Big Brother. Tudo novo, espaços a explorar, amizades novas e superficiais, notícias ruins não nos alcançam, todos parecem felizes, uma ilha da fantasia. O luxo, as atrações, as paradas em cidades turísticas, a comida, tudo impressiona. O balanço do navio, que no começo causava enjôo, depois fica no nosso corpo mesmo quando estamos em terra. A tripulação, italiana, é um espetáculo a parte. E a imponência do navio é algo sempre bonito de se ver.

Mas voltei. E fico me cobrando: você tem que escrever no blog! Tudo bem, ninguém lê isso, mas sofro da ancestral culpa católica. E resolvi escrever. O navio é um bom tema, então comecei com ele. Mas já se passou um tempo e não sei como continuar. Resolvi então mudar de tema...

Na volta, ainda em clima de férias, fui ao cinema. Assisti “Volver” do Almodóvar e recomendo a todos. Fiquei com vontade de escrever sobre ele. É um filme denso, com um toque trágico, uma pitada de humor e, sobretudo, as cores da Espanha de Almodóvar. É um filme feminino, com personagens femininas, dedicado a uma trama feminina. O que não e impedimento algum para uma platéia masculina, que ri e se diverte tanto quanto nós, mulheres. Mas é diferente do último filme de Almodóvar que eu vi, o excelente “Má educação”. Nesse as relações mais íntimas são discutidas, os dramas familiares são expostos, e as mulheres revelam seu poder batalhador, seu poder de sobrevivência. As atrizes são fantásticas (destaco Penélope Cruz cantando uma música típica espanhola), os cenários alegres, os diálogos envolventes. Definitivamente é um daqueles filmes que eu gostaria de ter feito.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Foto de Marco Antônio Teixeira

Ano Novo

Esse reveillon foi diferente. Pela primeira vez em anos, não levei flores pra Iemanjá nem formulei pedido algum. Eu estava exatamente onde queria estar, na praia de Copacabana, abraçada com minha filha e simbolicamente parada de frente para 2007. Olhava para o meu futuro próximo: os transatlânticos parados na praia, ao lado das balsas de fogos. O momento em que me dei conta disso foi mágico.

Durante os meus primeiros 12 anos de vida passei o reveillon em Ipanema. Meus avós paternos moravam lá e era tradição familiar passar o Natal no Grajaú com a família de minha mãe e o Ano Novo com a família do meu pai em Ipanema. Eu adorava as duas festas, cada uma com seus sabores, cheiros e rituais. Sempre tive em mim uma incurável carência familiar, resultado de uma sucessão de filhos únicos em meu pequeno núcleo e esses momentos com casas cheias de gente me alegravam a alma. Eu me sentia parte de algo maior e gostava de ouvir outras vozes, outras histórias que também me pertenciam, embora passasse o ano todo afastada delas. Os momentos festivos foram interrompidos quando minha mãe morreu subitamente em um 24 de dezembro. Eu tinha 13 anos e não conseguia entender bem o que isso significava.

Demorei 20 anos pra retornar ao tradicional reveillon na zona sul, sob um céu de fogos maravilhosos, muito mais high tech do que os que eu me recordava. E, como tradição é tradição, passei com minha filha (única) e com parte da minha família paterna.

Eu me dei conta então que na passagem de 2006 para 2007 eu finalmente estava me sentindo pronta, resolvida. Foi como se unisse em um único momento passado, presente e futuro. O retorno aos fogos, símbolo de coisas boas que ficaram pra trás, o abraço de minha filha e o navio ao longe, onde estarei em alguns dias. Eu estava bem e apenas agradeci a Iemanjá por me proporcionar esse momento após um ano de mudanças. Por ainda me permitir sonhar, fazer graça, redescobrir e escrever.

Espero que 2007 seja melhor, claro, que seja de concretizar e que, na passagem para 2008 eu possa novamente agradecer mais do que pedir. Obrigada, Iemanjá!